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O filme sem nome



Desde muito cedo, sempre fui atraído por tudo que se relacionasse ao tema horror: filmes, livros, lendas urbanas, brinquedos... É claro que isso fazia com que eu fosse visto com estranheza por minha própria família e por conhecidos. E todos tinham algumas quase certezas em comum: a possibilidade de que eu fosse um anormal, de que era influenciado por “coisas ruins” e que fosse acabar como um louco recluso. Tudo isso era devidamente ignorado por mim e como eu ria sozinho desses pensamentos tão banais!



Até mesmo hoje em dia, já com uma certa maturidade, ainda continuo ouvindo tais comentários e eu apenas retruco que, fora o meu gosto obcecado pelo mórbido, sou uma pessoa normal, além do fato do que se assiste nos noticiários e do que se lê nos jornais no dia-a-dia é muito pior do que se vê em um filme, por exemplo. Apesar disso, eu me conheço muito bem e sei que essa minha obsessão extrapola os limites da normalidade; é como uma correnteza negra que me puxa para profundezas inimagináveis, não sei bem como explicar isso.

Pois bem, eu sou um consumidor voraz de horror e posso dizer que tenho uma coleção respeitável. Um dia, trocando informações com outros aficionados, fiquei sabendo da existência de um filme obscuro com fama de maldito, o que me deixou totalmente intrigado. Ninguém sabia ao certo quem havia realizado-o ou de onde havia surgido; apenas apareceu por aí e causou uma polêmica bizarra, pois o que se divulgava no boca-a-boca é que se alguém o assistisse, as consequências não seriam nada agradáveis. Tais consequências pareciam incluir loucura, assassinatos, suicídios e mortes inexplicáveis. A partir daí, teorias sombrias sugeriam desde satanismo até conspirações apocalípticas, passando por mensagens subliminares e mindfuck. E o filme nem mesmo tinha um nome, o que só aumentava a aura de mistério à sua volta.

Ao mesmo tempo em que eu estava incrédulo quanto a isso tudo, um fascínio irresistível soprou em minha alma. Se, de fato, existisse tal filme, eu queria pagar pra ver. Considerando-me um cara já calejado, não queria ver nada que assustasse garotos de dez anos; eu queria ver algo realmente assustador e que capturasse a essência de pesadelos, algo que fizesse um homem adulto gritar. Então, comecei uma procura incansável por mais informações que me levassem até ele e posso dizer que não foi uma tarefa fácil. Houve muitas pistas falsas, informações desencontradas e muitos mentirosos que se gabavam de tê-lo em suas mãos. Além disso, muitas pessoas ainda ignoravam sua existência. Ao invés disso tudo me desencorajar, funcionava é como um combustível infernal que perturbava seguidas noites de sono. E os boatos continuavam.

Passou-se um bom tempo e eu já estava desanimado em minha busca, com as esperanças exauridas. Comecei a me achar ingênuo de ter dado tanto crédito a uma lenda urbana, possivelmente criada por algum nerd doentio, que deveria estar se divertindo até agora por ter soltado um conto de fadas por aí e por ver a dimensão que isso tinha adquirido. Até porque, em meio a tantas mortes diárias, nunca vi ou li nada sobre mortes causadas por algum filme macabro ou qualquer coisa parecida.

Até que, certa manhã de sábado, Fred me ligou. Ele era um amigo e também colecionador, e assim como eu, ele procurou muito pelo famigerado filme. Notei uma apreensão em sua voz e o questionei. “Cara, eu achei!”, ele gaguejou. Tive um sobressalto, mas me neguei a acreditar no que me veio à mente. “Achou? Mas achou o que?”, perguntei, sabendo que, no fundo, eu já tinha a resposta. “Eu... achei o... filme”, respondeu ele, parecendo sussurrar na linha. Senti meu apetite sombrio se encharcar de tamanha excitação, que eu mesmo me assustei. Ao perguntar como ele o tinha conseguido, ele foi cortante: “Não pergunte! Tem certeza de que quer ver isso?”

Dei uma risada e disparei: “Claro, você sabe que estamos atrás disso há muito tempo! Você já viu? E ainda está vivo?” Ele nada respondeu e continuei rindo. Ele limitou-se a perguntar novamente se eu tinha certeza de que queria ver o filme. Já num misto de impaciência e ansiedade, falei-lhe para acabar com frescuras e combinamos dele vir em minha casa. Despedimo-nos e antes de desligar, ele falou numa voz fria e sem vida: “Há coisas que não são para os nossos olhos...”


Finalmente, estou com o tão procurado filme em mãos! Estou radiante, apesar de que estranhei muito a aparência de Fred: pálido, abatido e visivelmente perturbado. Seu rosto era uma máscara mortuária, tão desfigurado que quase não o reconheci. Na hora, achei que estivesse doente ou algo do tipo. Então, ele entregou-me um DVD-R sem capa ou qualquer coisa que o identificasse, e sem mais, apertou minha mão num toque gélido e foi embora. Sem qualquer comentário, sem qualquer vitalidade. Se queria me assustar, ele quase conseguiu. O estranho é que Fred nunca foi desse tipo de presepada. Bom, o importante é que estou com o filme, e depois Fred vai querer saber se fiquei impressionado com o que vi e com o teatrinho dramático dele.

Esperei até a madrugada, contando os minutos e rezando para minha mãe ir dormir logo, para que eu pudesse apreciar a tão falado filme em paz. Ela foi se deitar e fui preparar a pipoca no micro-ondas. A sessão prometia ser divertida. Pus o disco no aparelho e me deitei no sofá da sala com a tigela na mão. O DVD não possuía menu ou qualquer informação, letreiro, nada. Apreensivo, eu desafiei: “Vamos lá, me impressione!”

Em dez minutos, eu já estava apavorado! Nesse intervalo de tempo, que me pareceu um paradoxo espaço-temporal, vi inúmeras coisas que nunca imaginei que veria nessa vida. Tive vontade de arrancar meus próprios olhos para poupar-me de tais visões! Não consigo descrever em palavras o que estava sendo expelido ante meus olhos. O que posso dizer é que aquilo não era um filme, e o mais próximo de uma descrição a que posso chegar seria sugerir que algo ou alguém pegou uma câmera, e filmou as masmorras mais subterrâneas e primitivas do Inferno... Uma orgia de sangue e insanidade, um banquete putrefato e surreal. Tudo sob uma sinfonia de êxtase e dor, cujo maestro é o caos... Um verdadeiro mosaico de puro horror e pestilência cósmica, onde as leis divinas e naturais eram totalmente inúteis! Eu sabia que aquilo não era um filme, pois por alguns segundos, consegui vislumbrar o rosto de um tio já falecido no meio daquele oceano de maldade! Não havia qualquer pretensão artística e nem mesmo salutar; a única pretensão ali era o fim de tudo. Quem quer ou o que quer que tenha feito aquilo era um inimigo de toda a humanidade. Tampouco devia ser humano. Levantei-me, tirei aquele DVD maldito do aparelho e o quebrei. O ar estava pesado e tive uma crise de bronquite, um mal que já não me afligia desde criança. Arrependido, fechei os olhos, mas continuava a ver aquelas imagens, presas em minhas retinas.



Eu estava tão absorvido por aquilo, quase num transe hipnótico, que quando o telefone tocou, eu quase gritei. Atendi trêmulo e era uma voz estranha, mas familiar ao mesmo tempo. Não consegui mesmo reconhecer e a voz não se anunciou. Num tom frio e indiferente, apenas me disse que Fred estava morto.  Senti minha nuca arrepiar e demorei a processar tal notícia em minha cabeça. Fiquei totalmente mudo, não consegui falar nada por alguns segundos. Finalmente, consegui perguntar: “Morto?! Mas como?! Quando foi isso?” A partir daí, tive uma sensação esquisita, não sei se era algo como uma ilusão auditiva.  Parecia que duas pessoas estavam falando comigo mas com a mesma voz, ao mesmo tempo. A voz respondeu-me: “Ele suicidou-se na madrugada retrasada.” Gaguejei aterrorizado: “O quê?! Mas, mas eu estive com ele ontem mesmo! Escuta, afinal, quem diabos está falando? Isso é uma brincadeira?” E então, do outro lado da linha, explodiu uma gargalhada obscenamente histérica que parecia ecoar em minha mente. A gargalhada nunca parava e a voz dupla ainda anunciava: “Fred está morto e ele não está em paz. Você também irá morrer.” Eu estava petrificado e não conseguia desligar o telefone de jeito nenhum. Seguiram-se alguns sons indescritíveis, algo como microfonia, ruídos mecânicos, sons de animais, uivos de desespero e choro de crianças, além da gargalhada estridente ao fundo. Uma verdadeira orquestra infernal. O riso logo se tornou um visceral grito de ódio que parecia nunca acabar, e eu continuava paralisado, forçado a ouvir aquilo tudo.



Subitamente, um estalo ensurdecedor fez doer meus tímpanos e a ligação terminou. De repente, não sei explicar como, eu estava novamente sentado na poltrona, assistindo novamente àquele show de horrores. Eu não conseguia me mexer, não conseguia falar, estava totalmente inerte. Mal conseguia respirar. Apenas meus olhos estavam normais, apesar de que não conseguia cerrar minhas pálpebras. Meu cérebro pareceu ter sido invadido por lava incandescente e minha cabeça doía muito. Com um esforço sobre-humano, consegui virar um pouco a cabeça. Então, eu vi que a tigela já não continha pipocas, e sim larvas de insetos e vermes que começavam a rastejar pelo meu corpo paralisado. Aí, a TV se desligou sozinha e voltou a se ligar. O contador do DVD Player disparou desordenadamente e só parou quando mostrou 666. E apavorado, eu vi minha própria imagem, naquele mesmo exato momento! A sala, agora, estava escura e eu me via na tela da TV, sentado no sofá como uma marionete quebradiça, enquanto vultos se formavam às minhas costas, adquirindo formas cada vez mais pavorosas. Ao sentir um vapor nauseabundo fazer meu rosto arder , tentei inutilmente gritar por socorro...


____________



Ao acordar na manhã de domingo, D. Suzana se assustou com um barulho incômodo que veio da sala. Rapidamente, levantou-se da cama e ao passar pelo corredor, olhou para o quarto do seu filho Alex e não o viu em sua cama. Chegando à sala, primeiramente, viu a TV em estática e num volume absurdamente alto. Ao virar-se para o sofá, viu a imagem que a fez gritar até desmaiar: o corpo ensanguentado de Alex, numa posição grotesca e improvável. Parte do rosto parecia ter derretido e sua boca escancarada, como se a mandíbula tivesse sido quebrada a pancadas, emitia um grito mudo. Seus olhos estavam arregalados e esbranquiçados, como se a íris tivesse sido sugada. Mais tarde, os peritos constataram que todos os seus ossos estavam quebrados, e sua língua e pálpebras haviam sido arrancadas. Espantados, eles não encontraram nada que sugerisse, ao menos, uma explicação razoável para o trágico ocorrido. Nada.

Fonte: Leitura Creepy

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